Terminar pra recomeçar.

Só hoje me sinto pronta para escrever sobre isso. Desde que virei adulta, não sabia o que iria ser qd crescer. Primeiro fui professora, o que eu gosto mas não é paixão e sim uma opção de vida, logo vi que queria algo além. Depois decidi ser farmacêutica, que foi adiado e hoje descartado, por coisas da vida. Então fui aprender a ser enfermeira, sim caí sem paraquedas ( como escreve?)  na enfermagem.
Voltando um pouco, quando engravidei da Clara tinha na minha cabeça que queria uma cesárea, mais do que isso eu achava que merecia uma cesárea. Tinha um pensamento que mulher pobre e sem instrução tinha parto normal e como fui para o SUS sabia que meu sonho estava distante. E passei todos os meses pedindo a Deus que não me deixasse sofrer, que colocasse uma cesárea no meu caminho, E assim foi, uma cesárea no meu caminho.
Não posso mentir e dizer que foi horrível. Foi tudo ótimo, zero de dor, zero de sofrimento, luz baixa na sala, musica que eu queria ouvir, poucas pessoas, médico super legal, e minha filha o tempo todo comigo. Não tive nenhum problema após, nada de nada.. tudo lindo pra minha concepção daquele momento.
Após seu nascimento eu comecei a me questiona sobre várias coisas (de fato renasci no dia do nascimento dela), achava péssimo que só se pensasse na criança, me sentia só como uma cegonha, me senti renegada, e obrigada a dar conta de tudo daquela criança , sem poder falhar em nada. Pirei o cabeção!!!! Aí que fui ler muitas coisas, deixar de ser um pouco alienada e crescer. Fiquei sabendo sobre as questões do nascimento no Brasil e me interei de tudo sobre o assunto, inclusive naquele ano estava sendo aberto uma Casa de Parto no Rj, constituída só de enfermeiros, sem médico!!! Como assim?? Achei um absurdo e devo ter pensado, tadinha das mulheres pobres não tem direito nem a um medico?
Aí caí na enfermagem......... e lembro que não estava fascinada pela faculdade, me questionei muito sobre ser era mesmo isso que eu queria ser qd crescer. Aguardava ansiosamente pelas matérias relacionadas pela saúde da mulher. Lembro como se fosse hoje, um dia que uma professora falou o q eu realmente pensava: as pessoas bajulam a grávida pelo bb que ela carrega, tanto é que qd sai o bb, acaba a bajulação!... Estava no céu, achei uma louca que pensava como eu e não me fazia me sentir estranha, nem uma péssima pessoa e mãe. E ela falava mais: amamentação é uma questão de escolha!! E dizia também de todas as questões psiquicas que veem a tona no momento do parir!!! Supra sumo do êxtase nesse momento.
Enfim, sabia que seria isso. Me formei , mas faltava alguma coisa. Almejava muito um título de enfermeira obstetra e num sonho mais bonito ainda, queria ser Residente do Municipio do Rj de Enfermagem Obstétrica. Coisa muito difícil, somente 10 vagas pra uma coisa que estava em muita evidência, MUITO MAIS DIFÍCIL DO QUE VESTIBULAR!!! Passei, em décimo lugar e com muito orgulho.
Do dia que assinei minha "posse" jurei que iria aproveitar tudo, tinha sede de aprender, de fazer pessoas felizes nesse momento onde somente a dor é valorizada. E foi assim, nesse sonho mais lindo, fui muito feliz. Lutei todos os dias, aprendi todos os dias, errei e acertei todos os dias, me emocionei todos os dias e daqui a 7 plantões e uma monografia entregue serei ENFERMEIRA OBSTÉTRICA.
E sabe o que acho mais bonito nisso tudo? Tenho a mesma vontade do dia que eu comecei. Mas é um outro ciclo, deixo de ser "aprendiz" e vou dividir o que eu sei, pra poder multiplicar. Me sinto com o dever cumprido. E muito grata por tudo que vivi, por todas as pessoas que conheci.
Grata ao bom Deus que me concedeu esta graça. 
A todas as mulheres que me doaram seu corpo e seu momento para que eu pudesse aprender, mesmo que elas não soubessem disso. 
A todos que passaram por mim e me ensinaram, foram exemplo e em mim confiaram.
A minha linda Clara por ter chegado e me despertado tudo isso.
A minha mãe por toda dedicação e confiança.
A todas queridas residentes por inúmeros aprendizados juntas.
Eu quero fazer isso pro resto da minha vida.